Em memória do “louco da aldeia”.

Em memória do “louco da aldeia”.

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Seu grito de guerra ecoava longe, anunciando sua chegada: “Amigooo”. Cabelo despenteado, com um topete rebelde, pele clara, bolsa a tiracolo, de sandálias, gargalhadas debochadas e tiradas inteligentes.

Esse era Alceu Marozzi Righetto, um dos maiores agitadores culturais que passou por esta urbe. Foi o homem que construiu o Teatro Municipal de Piracicaba – e conhecia cada tijolo, cada fiação elétrica, cada metro de piso colocado lá. Fui seu “escudeiro” e quantas e quantas vezes, como fantasmas, perambulamos em noite de lua cheia pelo teatro – ainda no chão de terra – porque Alceu queria saber como andava cada centímetro da obra que ele deixara de ver durante o dia. Era um criador, um visionário, e estava muito além de seu tempo. Juntamente com Adolfo Queiroz, outro louco – porém “comedido” – criaram o Salão Internacional de Humor e o transformaram e o projetaram internacionalmente.

À noite, depois de fazer sua visita à redação de “O Diário”, Alceu saia no seu carro Ford Belina pelas ruas da cidade, ouvindo a Rádio Mundial do Rio de Janeiro, os programas de “BIG BOY” e “VARIG DONA DA NOITE”. Ali ouvia os últimos acontecimentos em música e agito cultural. Alceu foi também o criador da “Banda do Bule” (banda que recebeu esse nome por causa do Bar que existia em baixo da Rádio Difusora), inspirada na Banda de Ipanema – que tanto ele ouvia falar na rádio de sua preferência. Sempre ao seu lado, eu não percebia que estava sendo contagiado pela sua saudável “loucura”.

Alceu criou um jornal no mesmo formato do “Pasquim” e, em companhia do outro “louco”, Adolfo Queiroz, criou o maior jornal do interior paulista – diferente dos já existentes na cidade e no interior. De suas mãos surgiu um jornal verdadeiramente cultural e que recebeu o nome de ALDEIA, talvez inspirado pela obra do comunicador canadense Marshall MacLuham, que na época revolucionou a comunicação com seu livro “Os Meios de Comunicação como Extensão do Homem”.

Alceu já não se encontra mais entre nós, agita outras urbes mais sutis. Porém, conosco ainda permanece a sua genialidade criativa e a vontade de agito de seu parceiro e meu amigo de muitas jornadas: Adolfo Queiroz. Sempre estive presente em todos os grandes momentos que revolucionaram a cultura dessa cidade, graças à minha ligação precoce com “O Diário” (fonte de inspiração e celeiro de criatividade e ideais). Sem saber, o Grande Arquiteto do Universo havia reservado a mim a missão de ser a testemunha ocular da história piracicabana.

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João Carlos Teixeira Gonçalves é professor nos cursos de Comunicação da Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP) e consultor em Comunicação & Marketing de Empresas.

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