Como era bom o nosso francês.

Como era bom o nosso francês.

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Ele foi uma das maiores “inteligências” que já viveram em Piracicaba. Não nascera aqui, era natural de São José do Rio Pardo. Mas aqui viveu e muitos foram os seus amigos e alunos nesta cidade. Além de ter sido dono de uma voz que hoje é difícil de ouvir nas rádios, ele foi locutor da Rádio Tupi (do Rio de Janeiro) e um dos fundadores da Difusora de São José do Rio Pardo. Trabalhou também como jornalista no Correio Popular (de Campinas) e foi ainda redator do jornal O Dia (de São Paulo).

Distribuiu luz, sabedoria e simpatia para aqueles que tiverem a honra de conhecê-lo. “Ditão” (como era chamado pelos mais íntimos) ou professor Benedicto de Andrade (para seus inúmeros alunos e admiradores), além de toda sua humildade e sapiência, dominava o português, o espanhol e o francês, além de comunicar-se bem em inglês, grego e russo! “Ditão” foi vice-presidente de nossa Câmara Municipal e orador da União Negra Nacional, além ter recebido inúmeras homenagens aqui e no estado todo.

Para descontrair, o professor gostava mesmo era de se reunir com os amigos nos momentos de lazer, para bebericar caipirinha e ajudar a preparar um belo almoço. Certa vez, foi convidado a vir a Piracicaba um figurão da Secretaria de Educação (pessoa de origem francesa), e foi programado um almoço entre professores amigos num rancho da cidade.  Entre os organizadores, ficou acertado que o professor Benedicto iria ajudar na cozinha e faria o discurso, pois além de dominar o idioma francês ele era o único com capacidade de discursar a fim de impressionar o convidado.

frances 2Durante o almoço “rolaram” conversas daquelas “jogadas fora”, jogo de truco e muitas piadas.  O francês começava a exagerar no álcool e nos modos. Em determinado momento, num sotaque carregado, o convidado gritou: Ei, negão! Mais uma caipirrinha parra mim! Não aprontô ainda a comida, vamos acelerrar. Como sempre, gentil e diplomata, o mestre ajudava a servir, enquanto alguns mais “etilizados” cochichavam: – se eu fosse o professor, mandaria essa cara “tomar no…” Mas o professor agia como cavalheiro e ria maliciosamente.

Foi anunciado o almoço e todos se reuniram em torno da mesa. Antes de começarem a servir, foi convocado o professor Benedicto, para falar e saudar o ilustre visitante francês. O professor começou cumprimentando-o em português e, em seguida, “lascou” um francês clássico, digno de recepcionar diplomatas. E assim foi por aproximadamente dez minutos. Entre risos contidos dos presentes e o assombro e a vergonha do homenageado, o almoço tornou-se inesquecível.

Bem. Se isso foi fato, causo ou lenda eu não sei dizer. Apenas sei que ouvi muito essa história na minha adolescência e ela ajudou-me a aumentar ainda mais a admiração que sentia por aquela figura ímpar que tive a honra de conhecer.  Por isso, a minha memória trouxe de volta, hoje, para o deleite dos leitores, a lembrança de tal genial e querido professor.

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João Carlos Teixeira Gonçalves é professor nos Cursos de Comunicação da Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP) e Consultor em Comunicação & Marketing de Empresas.

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