Na FLIP, Antônio Cândido cita piracicabano

Ontem à noite, na mesa de abertura da FLIP 2011 – a tradicional e Festa Literária de Paraty – o maior ensaísta e crítico literário brasileiro, Antônio Cândido, proferiu uma memorável conferência sobre um dos maiores gênios da literatura brasileira de todos os tempos: Oswald de Andrade – vulto literário homenageado nesta edição da FLIP.

Durante a conferência – intitulada “Oswald de Andrade: devoração e mobilidade” –, esbanjando disposição, memória e lucidez invejáveis, Antônio Cândido, aos 93 anos, realizou um verdadeiro passeio pela vida e pela obra do amigo Oswald. Para isso, Cândido preferiu valer-se de um depoimento pessoal (levando-se em conta que ele conviveu com o polêmico escritor) e não intentou analisar o pensamento e a obra oswaldiana a partir de observações pertinentes à crítica e à teoria literárias.

Nesse passeio pela biografia do amigo, o professor, ensaísta, crítico e também escritor citou – entre tantos casos curiosos ali rememorados – uma das passagens mais pitorescas ocorridas com Oswald de Andrade: uma rápida desavença com o escritor e intelectual piracicabano Mário Neme.

Um dos responsáveis pela Associação Brasileira de Escritores, Neme não teria inscrito o nome de Oswald na comitiva de escritores paulistas que tomaria parte no 2º Congresso de Escritores Brasileiros. “Fulo da Vida,” no dizer do próprio Antônio Cândido, Oswald manifestou-se publicamente – em artigo escrito em jornal, como era seu costume –, hostilizando e satirizando – como também era seu costume – a figura do piracicabano, chamando-o de o “grão turco de Piracicaba.”

De acordo com  o que explicou Antônio Cândido, a expressão seria uma pilhéria das mais ácidas de Oswald para com o escritor de Piracicaba – uma vez que Neme era de origem libanesa, e não turca. Além disso, o título de “grão” era uma forma de comparar Neme aos despóticos e violentos “senhores” do oriente – ao mesmo tempo em que, discriminatoriamente, o chamava de interiorano.

 Testemunha do acontecido, Antônio Cândido revelou ainda que a “agressão” de Oswald ao piracicabano não impedira, todavia, a posterior amizade entre os dois. Como revelou Cândido, tempos depois do ocorrido os escritores podiam ser vistos juntos, em festas e encontros literários, um ao lado do outro – o que prova que eles não guardaram rancores.

Fechando a questão, Cândido lembrou ainda que até mesmo uma fotografia histórica, tirada posteriormente ao ocorrido, registra as figuras sorridentes de Oswald de Andrade e Mário Neme ao lado do escritor José Lins do Rego e dele mesmo, Antônio Cândido.

Após a fala de Antônio Cândido nessa mesa de abertura, foi a vez do escritor, compositor e também professor da USP, José Miguel Wisnik, encerrar esse primeiro evento da FLIP 2011 fazendo uma leitura da recepção da obra de Oswald durante as décadas de 60 e 70 no Brasil.

Maior evento literário do país, a FLIP acontece até domingo, dia 9, e conta com a participação de escritores, críticos, estudiosos e jornalistas nacionais e estrangeiros. Confira a programação completa pelo site: www.flip.org.br

(FOTOS: WALTER CRAVEIRO – extraídas do site da FLIP)

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