A Nova Safra da Música Erudita Piracicabana

DEZ PERGUNTAS AO MAESTRO ANDERSON DE OLIVEIRA.

Bacharel em Composição e também em Regência pela Unicamp, o maestro Anderson de Oliveira conduz – desde 2010 – a Orquestra Filarmônica Jovem de Piracicaba – celeiro de uma nova e boa safra de músicos piracicabanos. Aluno do famoso maestro Roberto Tibiriçá, Anderson de Oliveira aposta na formação musical dos jovens e acredita que somente com projetos e metas definidades é que Piracicaba, um dia, poderá vir a ter uma orquestra  nos moldes das grandes sinfônicas nacionais – como a OSESP e a Sinfônica de Minas Gerais.

Confira abaixo a entrevista que o maestro concedeu ao Diário do Engenho.

1 – [D.E]: Como nasceu a Orquestra Filarmônica Jovem de Piracicaba, Anderson?

[Anderson]: A orquestra nasceu em 2010, em uma união de pais e amigos que tinham em comum o fato de os filhos e outras pessoas próximas terem habilidade com instrumentos musicais. Esse grupo de amigos da Orquestra – e por que não dizer da Música – que deu início à concretização desse pensamento, está em pleno trabalho. São 10 pessoas, com garra e disposição para alcançar objetivos muito maiores dentro desses ideais.

2 – [D.E]: A Orquestra tem atividades semanais? Há um trabalho freqüente – em termos de ensaios e apresentações – realizado na orquestra?

[Anderson]: Sim! Inserido na Orquestra temos o projeto chamado “Jovens Músicos” – no qual os integrantes não apenas tocam como recebem toda uma formação por mãos de professores com ótima formação, profissionais escolhidos a dedo por mim. Semanalmente, os jovens recebem treinamento teórico, treinamento em música de câmara – que é divido num primeiro momento em cordas e sopros – treinamento em percepção rítmica e melódica, além das aulas de instrumento com professores específicos para cada um deles. E tudo gratuitamente!

Serão dez apresentações até o final deste ano, um número bem relevante para um trabalho que está buscando estruturação nos seus primeiros anos. Mas isso é positivo, pois somente tocando continuamente para se poder moldar o som de uma Orquestra Jovem e melhorar onde se deve.

3 – [D.E.]: Piracicaba sempre teve vários grupos orquestrais de excelente qualidade – tanto jovens como adultos. Por que você acha que a cidade ainda não tem uma Orquestra Sinfônica Oficial. Ou seja, uma orquestra com músicos contratados por concurso, com plano de carreira municipal e tudo o mais?

[Anderson]: O primeiro grande entrave que vejo é a falta de metas, um plano objetivo quanto a esse assunto. Ou seja: sentar e traçar onde estamos no momento, quais seriam as primeiras ações que estão ao nosso alcance e traçar um ideal para um futuro de médio e longo prazo.

Ao mesmo tempo, devemos saber se existem mecanismos de manutenção jurídica para receber patrocínio e escrever projetos, como ocorre em vários lugares do país – como a Filarmônica de Minas Gerais, que ao lado da OSESP e têm se destacado como uma das maiores do nosso Brasil. Assim como a OSESP eles são regidos por uma Fundação, talvez seja o caso de se pensar numa Fundação para estruturar uma grande Orquestra na cidade, que pudesse oferecer salários que chamasse atenção de excelentes músicos, e uma Orquestra que mantivesse ensaios no mínimo 3 vezes por semana.

Na questão de contratação de músicos por concurso público, tenho certas dúvidas. Acho que funcionaria bem como se está fazendo nos dias de hoje: o músico passa por um teste, sim. Ele é contratado como manda a lei, mas têm a garantia de permanecer no conjunto se estiver continuamente tocando bem.

Pois uma coisa é certa, seja dinheiro do poder público ou privado, tudo vêm da População e nada mais justo que mantermos a qualidade artística de uma proposta que exige tanto dinheiro como uma Orquestra. Outra observação: nem mesmo o maestro pode ser concursado, como nesses casos citados, assina-se um contrato com tempo de início e prazo de validade. Se se está fazendo um ótimo trabalho pode-se renovar, se não, a direção da fundação pensa em outro para o cargo.

Outra questão é de Investimento. Não que deva ser investimento apenas do poder público, mas de maneira geral também temos que pensar no setor privado, numa possível colaboração entre os dois setores, criar um projeto com um plano de ação e buscar os parceiros mais indicados.

4 – [D.E.]: Além da Orquestra Filarmônica Jovem, há também em Piracicaba outras orquestras e outros grupos instrumentais dedicados à educação musical dos jovens (como o desenvolvido pela própria Orquestra Filarmônica Jovem, como o desenvolvido pelo projeto Guri, como o da Escola de Música de Piracicaba e outros). Dessa forma, você acha que podemos esperar por uma nova e “grande” safra de bons músicos, muito em breve, na cidade?

[Anderson]: Em nossa cidade temos jovens muito talentosos, que até saem da cidade para formar outras orquestras jovens em cidades que não têm esse mesmo privilégio que Piracicaba: o de ter tanta vocação artística, e de forma tão natural. Vejo à minha frente grandes possibilidades de termos músicos de nível muito bom em poucos anos em nossa cidade, mas as ações precisam ser muito mais fortes e contundentes.

Precisamos pensar numa forma de possibilitar uma situação em que consigamos não somente orientar, mas trazer grandes formadores para eles. Além disso, vejo que existe necessidade de criar um cenário profissional que permita que eles estejam aqui e façam a música instrumental.

Assim, a música de concerto prosperará de forma contínua e permitará que, no futuro, eles sejam os integrantes de uma possível grande Orquestra Municipal da cidade, onde se tenha condições técnicas e artísticas para trazermos grandes solistas como Nelson Freire (pianista brasileiro conhecido internacionalmente), Antônio Menezes (violoncelista brasileiro reconhecido internacionalmente) e outros que podem ser trazidos nos moldes como as grandes Orquestras no Brasil hoje fazem.

Por exemplo: no ano que vêm será o ano Beethoven e as grandes Orquestras – como a Petrobras Sinfônica e Filarmônica de Minas – vão fazer ciclos de concertos e em conjunto vão trazer o grande e aclamado pianista Barry Douglas.

5 – [D.E.]: Apesar do surgimento desses novos grupos e dessa ênfase no ensino de música na cidade, o que você acha que ainda está faltando em relação a esse assunto? De maneira geral, o que falta ou precisa ser feito para dar ainda mais qualidade ao ensino de música (e da música erudita, em especial) em Piracicaba?

[Anderson]: Hoje, já é possível termos bons professores de instrumento, ainda mais em nossa região, devido à força econômica e cultural na qual estamos inseridos geograficamente. É possível trazermos ótimos professores para dar treinamento aos mais avançados. Mas, de forma geral, falta direcionamento nas ações, objetividade de resultados para ser alcançado semestre a semestre, ano a ano. A falta de um maior desenvolvimento é devido ao não desenvolvimento de metas artísticas e técnicas. Vejo isso porque estamos aprendendo no “Projeto” e na “Orquestra.” Por exemplo: quando iniciamos, tocávamos arranjos que por sinal são ótimos para desenvolver leitura, articulação e aprender a colocar idéias músicas de fraseado. Terminamos o final do ano de 2010 tocando algo como divertimento para Orquestra de Mozart, e em 2011 com a vinda dos professores e aulas sistemáticas conseguimos realizar apresentações com Sinfonias de Haydn e treinamento de leitura e repertório de outras Sinfonias, e já para o final do ano de 2011 estamos realizando obras com coral e o lindo Concerto para Piano n.1 de Beethoven.

Não sou nenhum fantasiador em pensar que tudo sai mil maravilhas, que não existirão aspectos a serem melhorados. A verdade é que quando olhamos para o início de 2010 e final de 2012, tomamos um grande susto em relação à questão do que conseguimos tocar com a Orquestra e também o quanto ao desenvolvimento individual dos músicos. Assim, estamos observando e traçando novas metas.  

6 – [D.E]: Piracicaba “tem” público para apresentações de música orquestral? As apresentações da Filarmônica Jovem costumam atrair um público bom?

[Anderson]: A cidade possui público nesse seguimento, mas acho que deve chegar ao conhecimento de toda a população as ações que possamos realizar, não somente atrair o publico, mas sairmos da nossa zona de conforto e interagir com a população! Existem ações específicas para isso e estamos nos direcionando para também atender a essa ideia nos próximos anos. E, numa cidade de médio porte como a nossa Piracicaba, vejo um grande campo a ser semeado nos próximos anos.

As apresentações da Orquestra Filarmônica Jovem de Piracicaba têm recebido ótimo público – seja no Municipal, seja no Teatro SESI ou nas igrejas. A questão é o quanto e como se chega ao ouvido da população os eventos.

7 – [D.E]: A Orquestra Filarmônica Jovem tem algum apoiador? Há alguma empresa parceira? Se sim, como funciona essa parceria?

[Anderson]: Em 2011 tivemos o apoio da FIBRIA e INSTITUTO VOTORANTIM, parceria que realmente fez toda a diferença para fortalecer e ajudar na estruturação da nossa proposta, que é a de trabalhar com jovens. Temos o apoio financeiro para mantermos os professores que são graduados e com experiência de orquestra. Além do que, essa parceria permite desenvolver todas as ações necessárias para as atividades propostas em 2011. Também contamos com apoio da SEMAC (Secretaria Municipal de Cultura).

8 – [D.E]: Quais são as principais necessidades da Orquestra? O que poderia ser feito para se apoiar a Orquestra? Como as empresas e demais pessoas podem contribuir para com esse grupo?

[Anderson]: Para 2012 estamos com um projeto “Jovens Músicos” – três vezes maior e aprovado pela Lei Rouanet no seu artigo n.18, que permite a dedução fiscal de 100% do investimento financeiro que a empresa venha fazer ao projeto.

Temos uma forte necessidade em conseguirmos um espaço que, de fato, seja viável para realizar os ensaios, onde possamos ouvir bem o que o grupo está tocando e que seja ideal para termos tranqüilidade para desenvolvermos um trabalho de ponta com os jovens, sendo que o ideal seria estar em uma das salas dos teatros da cidade.

9 – O fim de ano está chegando e, com ele, costuma acontecer pela cidade uma séria de apresentações musicais. A Orquestra Filarmônica Jovem realizará algum concerto natalino?

[Anderson]: Temos apresentações de distintos repertórios em um único mês. No dia 04/12, às 15h, tocaremos na Feira de Presente de Natal, no Engenho Central, Armazém 09 (orquestra e grupos de câmara).

No dia 10/12, às 20h, tocaremos no Teatro Popular SESI. Na ocasião, estaremos ao lado do Coral Municipal de Rio Claro e tocaremos obras de Haendel, Vivaldi, Saint Saens e Mozart.

No dia 17/12, às 20h30, faremos uma apresentação da  Catedral Santo Antônio. No repertório, a Abertura de A Flauta Mágica de Mozart e o Concerto para Piano n.1 de Beethoven – tendo como o solista João Paulo Casarotti.

Já no dia 19/12, às 20h, a Orquestra se apresenta no Teatro Municipal Dr. Losso Netto. No repertório, novamente a abertura de A Flauta Mágica de Mozart e Concerto para Piano, n.1, de Beethoven. E, como solista, João Paulo Casarotti!

Ah! E vale dizer que todos os concertos têm entrada gratuita!

10 – [D.E.]: Quais são os planos e projetos da Filarmônica Jovem para o ano que vem? Quer aproveitar também para deixar uma mensagem de fim de ano aos leitores do nosso Diário?

[Anderson]: Nossa principal meta é conscientizar e proporcionar condições e ideias para que esses que estão aí hoje, e os que haverão de estar, encontrem um ambiente ideal para conseguirem adquirir conhecimento e excelente técnica em seu instrumento. Somente assim eles terão chances reais de serem grandes músicos no futuro. Para isso, nossa proposta é a de trazer importantes professores do Brasil para trabalharem anualmente, através de masterclass, além dos professores que já acompanham semanalmente os alunos.

Pensamos também em ampliar o número de vagas de modo considerável, e estamos nos preparando para começarmos a trabalhar não somente com jovens, mas também com crianças – preparando-as desde cedo. Por isso, é muito importante apoio de pessoas físicas e de empresas para desenvolvermos o que pensamos em sua totalidade.

Aos queridos leitores deste Diário, desejo paz! Paz com o próximo e paz com nós mesmos. Acredite num ano de 2012 melhor ainda! Sonhar e realizar, traçar planos e criar expectativas acreditando no que você faz, e nunca desanimar, mesmo que te digam o contrário do que você acredita em fazer, vá em frente!

Viver, amar é um privilégio que temos em quanto podemos. Desejo a todos um maravilhoso e formidável ano de 2012!

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(a coluna “Entrevistas” vai ao ar sempre nos finais de semana).

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