Piracicaba: reflexões sobre economia e arte  em uma cidade de cores possíveis.

Piracicaba: reflexões sobre economia e arte em uma cidade de cores possíveis.

 

Conta a história de Piracicaba que índios, negros e inúmeros migrantes foram paulatinamente “recrutados” para que a construção de nossa querida cidade – iniciada nas margens de nosso rio – fosse sendo efetivada ao longo do tempo. Por isso, importa lembrar sempre que a escravidão e diversos outros tipos de sofrimento – infelizmente comuns na história da humanidade – também fizeram (e em alguns casos ainda fazem) parte do processo do que chamamos de “desenvolvimento” de nossa urbe.

Nesta dolorida construção, todavia, é visível o crescimento da cidade. É notório, também, evidentemente, o seu potencial de instalações industriais – com alta tecnologia nos setores da economia (desde a agricultura até os serviços inovadores na produção) –, com diversificações intensas nos segmentos do biocombustível, no do automobilístico e em muitos outros.

Tal potência desenvolvimentista faz com que o posicionamento da Piracicaba na economia brasileira atinja números expressivos, notadamente nas exportações nacionais. E, nesse processo, a instalação de empresas e a necessidade de criação da tecnologia demandam instituições que, por suas vezes, também demandam pessoas das mais diversas culturas que, ao se juntarem aos nativos piracicabanos, tornam belo e visível o caldeirão cultural de nossa cidade.

Nesse sentido, e seguindo os cânones da teoria econômica, importa reconhecer que o crescimento econômico é medido pelo aumento do PIB, ou seja, o aumento da produção – com provável aumento de emprego e renda. Entretanto, esse crescimento econômico só se fará sustentável com o denominado desenvolvimento, ou seja, com a maior inclusão de pessoas nesse tal processo de desenvolvimento (levando-se em consideração, é claro, bons níveis de educação, saúde, segurança e a preservação de meio ambiente).

Em uma reflexão mais profunda acerca do desenvolvimento das cidades – e da nossa, em especial – em uma visão particular de plenitude podemos entender que o desenvolvimento real consiste num processo de intensa reflexão sobre a vida, e que abarca a convivência de diferentes posicionamentos políticos em função do homem, da justiça, da igualdade e da liberdade. Quer dizer, não podemos falar em desenvolvimento sem qualidade de vida, sem avanços nas condições básicas de saúde, segurança e educação da população.

A partir disso, verifica-se por outro lado que – atualmente – a ideia de crescimento e o próprio crescimento em si vêm sofrendo atrasos, abalos e ameaças que ocorrem mundialmente e internamente em nossa nação, apesar de o nosso caldeirão cultural ter potencial para criar um desenvolvimento em sua mais perfeita plenitude.

Nesse cenário desenvolvimentista perigoso e muitas vezes desumano é que a cultura – manifestada pela arte – se faz necessária, podendo e devendo ser incentivada pelo poder público e privado em suas mais deferentes esferas. Isso porque a criação de momentos para reflexão, por meio das artes, são armas estratégicas para que a vida se torne mais justa e nos anime a construção de um presente que garanta a plenitude da vida – entendida muito para além das questões apenas financeiras e de acúmulo de capital.

Portanto, numa cidade com o potencial cultural e econômico como o de Piracicaba, é imperativo ressaltar que o investimento em arte e cultura se faz obrigatório e deve ser entendido como investimento real no campo do desenvolvimento pleno do município e de seus habitantes.

Não permitir que o potencial cultural e econômico criado ao longo de nossa história seja abalado é, assim, uma missão fundamental de todo aquele que, de fato, se preocupa com a cidade – seja ele um empresário, uma figura política, um artista ou um cidadão comum.

Cabe a nós, piracicabanos, por fim, reconhecermos sempre que – para nos desenvolvermos – jamais podemos perder de vista a sensibilidade e o ânimo para pintarmos juntos uma vida com cores cada vez mais vivas e mais possíveis. Trazer para a tela da cidade o caldeirão multicolor e poli-artístico que engrossa nosso caldo cultural é tornar visível um desenvolvimento humanizado e intelectualizado necessário para se viver a vida em plenitude!


Francisco Crócomo é economista, professor universitário e escultor.  

Alexandre Bragion é editor do Diário do Engenho.

Ambos fazem parte do “Grupo dos Cêis”: coletivo de artistas piracicabano que se propõe a repensar o trinômio Arte, Política & Sociedade.  

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