O Voo do Corvo

O Voo do Corvo

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Nos primeiros minutos após o meio dia havia um número enorme de pessoas de todas as idades se posicionando nos lugares estratégicos para poder obter o melhor da negociação. Era uma horda de colecionadores que todos os domingos se reuniam em frente ao cine São José, o popular “Zelão”, para vender ou trocar gibis (história em quadrinhos).  Eram gibis de todos os tamanhos e temas, como Durango Kid, Capitão Marvel, Mandrake, Lanterna Verde, Flash Gordon, Tarzan, Jim das Selvas, Aí Mocinho, Sobrinhos do Capitão, Zorro, Buck Rogers, Roy Rogers, Nick Holmes, Capitão América, Pernalonga, Tio Patinhas, Luluzinha, Bolinha, Jerônimo, Super Mouse, Drácula Guri, Shazam! e outros que marcaram e incentivaram nosso gosto pela leitura.

Bom era poder assistir a matinê que tinha inicio às 13 horas e se prolongava por toda tarde, com documentários, seriados, jornal da tela e o filme que chamávamos de “principal.” O cine São José, além do salão principal, tinha cadeiras nas laterais,  depois, no andar de cima,  muito lá em cima, a popular geral, onde sentavam os bagunceiros e os folgados que gostavam de assistir aos filmes fazendo gracinhas, sem sapatos ou conversando.

Antes de se iniciar o filme apareciam às vinhetas de abertura, como os da Columbia, da Paramount,  da Warner e os da Metro (com um leão Rugindo), da Arte Filmes (uma Torre emitindo raios), da Rank (um homem forte batendo um gongo), e da Condor Filmes (um condor fazendo um voo em círculo para escrever o nome Condor Filmes Apresenta). Era nessa hora que o cinema, em uníssono, resolvia espantar a ave para, em coro, fazer o famoso “shiiiiiiiiiiiiii… Shiiiiii…”

Foi num domingo qualquer que alguém, não sei de que forma ou maneira, levou um urubu para a sala de projeção e o soltou na hora exata que o condor levantou voo. Foi um espetáculo à parte. Acenderam-se as luzes e até que as lanterninhas (guia das pessoas até as cadeiras)  retirassem o bicho da sala foi só risadas e bagunça generalizada.

O tempo passou e a memória é ainda da época em que os filmes eram produzidos em branco e preto. Porém, a lembrança é colorida e ela toma vida sempre que vejo uma vinheta de abertura de um filme: paixão de infância que nunca mais abandonei, tal como as histórias em quadrinhos.

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João Carlos Teixeira Gonçalves é professor dos Cursos de Comunicação da Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP).

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