10 perguntas a Gabriel Ferrato

Simpático, solícito e atento às questões sociais, administrativas e políticas de Piracicaba, o professor Gabriel Ferrato conduz com braço forte a pasta da  Secretaria da Educação de Piracicaba – sendo apontado por muitos como um dos fortes candidatos à sucessão municipal. Paciencioso, Ferrato conversou com o Diário do Engenho e apresentou – entre outras declarações – a sua modesta versão sobre o fato de ser ou não o candidato “preferido do prefeito Barjas Negri.”   Confira!

1. [D.E]: Secretário. Em primeiro lugar, em nome de toda a equipe do Diário do Engenho, agradeço pela sua gentileza em nos atender e pela presteza em aceitar conceder esta breve entrevista. E, para abrir este bate-papo, gostaria que o senhor – enquanto secretário de educação do município – fizesse um breve balanço da situação da educação em nossa cidade.  Quais as mudanças positivas que o senhor aponta como frutos da sua gestão frente a essa pasta?

[Gabriel Ferrato]: Procurarei ser objetivo. Do lado quantitativo: ampliação do acesso à educação infantil com a construção de novas escolas, que aumentaram consideravelmente as vagas para as crianças, filhos de mães trabalhadoras: em 2012, serão 78 unidades que irão atender a mais de 16 mil crianças de 0 a 5 anos; no ensino fundamental, a construção de mais escolas em todas as regiões da cidade, aproximando as unidades da residência das crianças: em 2012 serão 46 unidades que atenderão a mais de 15 mil alunos. Do lado qualitativo, até o momento: valorização dos profissionais da educação, com aumentos de salários muito acima da inflação; criação da gratificação por freqüência equivalente a um décimo quarto salário; concursos mais qualificados e transparentes para a ocupação de funções de coordenação pedagógica e direção das escolas; criação das funções de coordenação de formação; contratação de profissionais de educação física para atuar nas escolas de ensino fundamental; introdução do Programa Ler e Escrever no ensino fundamental, dando homogeneidade ao ensino e formação dos professores; melhoria das condições de trabalho nas escolas, tanto no espaço físico como nos materiais; e, acima de tudo, compromisso de toda a rede com o aprimoramento permanente da qualidade de nossa educação. Uma pesquisa da USP do final de 2011 mostrou que 98% dos pais das crianças matriculadas em nossa educação infantil consideram as escolas ótimas ou boas, assim como 93% dos pais dos nossos alunos do ensino fundamental. Um reconhecimento e tanto, que valoriza os nossos profissionais e a educação municipal!

2. [D.E]: Pensando um pouco na figura do professor. O senhor vê caminhos para que a atividade docente possa vir a ser revalorizada? Ou não há, no seu ponto de vista, necessidade de que isso aconteça? Como reencantar as pessoas a fim de que elas voltem a procurar por cursos de licenciatura?

[G.F.]: Acredito, desde que alguns passos sejam dados nessa direção. A remuneração é um desses aspectos, mas não o único. Em nosso último concurso para a educação infantil, do final de 2011, houve mais de 20 candidatos por vaga, o que demonstra que os aumentos reais de salários que demos nos últimos anos começam a ser atrativos (somente nos últimos três anos, de janeiro de 2009 a janeiro de 2012, aumentamos os vencimentos básicos dos professores em 71,5%, muito acima da inflação no período, que foi de 17,5%). Outro indicador importante dessa melhoria salarial foi a queda vertiginosa do número de demissões em nossa rede. De maneira geral, o que posso afirmar é que desde que a remuneração dos professores seja equivalente ou se aproxime a de outros profissionais com exigência de qualificação semelhante, a atração para a carreira virá. Creio que outra variável importante é o reconhecimento social. E aqui nos encontramos em uma encruzilhada: enquanto a sociedade falar mal da escola pública, não há como os profissionais serem reconhecidos; por outro lado, para reverter esse quadro, a escola tem que ser melhor, apresentar resultados, mostrar que tem um bom desempenho e compromisso com a educação. Em Piracicaba, fiz questão de expor a nossa rede na mídia, mostrando nossos resultados e o que as escolas estão fazendo. Mas só podemos realizar isso porque temos o que mostrar, de fato. A opinião dos pais dos alunos de nossas escolas, apontado na pesquisa da USP, comprova o reconhecimento social. A minha intenção e objetivo é que o professor de nossa rede possa, altivamente, dizer: sou, com muito orgulho, professor da rede de ensino público municipal de Piracicaba. Acho que estamos conseguindo isso. Outras atitudes são necessárias: o diretor estar presente na escola e junto com os professores; o coordenador pedagógico trabalhar em harmonia e seriamente com os professores, dando formação e acompanhando os trabalhos dos professores; os supervisores estarem presentes nas escolas, contribuindo com elas; o dirigente da educação (Secretário Municipal, por exemplo) mostrar presença e interesse pelas atividades desenvolvidas nas unidades escolares e assim por diante. Por outro lado, embora haja dificuldades no setor público – diferente do setor privado – para oferecer recompensas ao trabalho desenvolvido pelos profissionais, temos que encontrar alternativas. Na Prefeitura de Piracicaba, os professores e profissionais com bom desempenho podem receber 50% de bolsa de estudo para buscar uma melhor qualificação em cursos de graduação, especialização, etc. Penso que outros benefícios, associados ao mérito, devam ser criados. Em resumo, na minha concepção, esse efeito-demonstração, de uma rede valorizada e reconhecida socialmente, estimula mais pessoas a abraçar a carreira de professor.

3. [D.E]: Apesar de ganhar destaque na imprensa por conta de seu evidente crescimento urbano e comercial, nossa cidade também se tornou destaque nesses mesmos meios – e até na imprensa televisiva – por conta da violência crescente e de casos de extrema brutalidade cometidos contra a vida humana e também contra os animais. Do mesmo modo, o trânsito em nossa cidade anda cada vez mais complicado – em especial pela falta de respeito de muitos motoristas. Enfim. O senhor acha que o piracicabano está mais “mal educado”? O fenômeno do crescimento da cidade teria, de alguma forma, influenciado negativamente nessas questões?

[D.E]: Creio que a sociedade contemporânea, cada vez mais consumista e individualista, associada à quebra de vínculos pessoais e de vizinhança que o crescimento urbano acarreta, produzem uma sociedade pior. Mas não podemos culpar somente o crescimento urbano, porque seria muito simplista. As cidades têm que oferecer oportunidades aos mais jovens e isso somente o crescimento econômico permite. Veja o caso de um país desenvolvido, que conheço bem, pois lá morei um período para estudar, a Espanha, que mesmo antes da crise mundial tinha cerca de 20% de seus jovens sem oportunidades de trabalho ou os empregos existentes eram de muito baixa remuneração, o que não lhes permitia sequer constituir família e continuavam a morar com seus pais. Observe que estou me referindo a um país desenvolvido. Se quiser, examine a violência e crueldade que ocorre nos sertões pouco povoados de nosso país. Ali não há explosão urbana, mas a violência está presente. Então, como é que se explica essa nossa realidade? Os grandes intérpretes de nossa sociedade buscam as raízes dos fenômenos sociais brasileiros na nossa herança colonial, patrimonialista, patriarcal e profundamente desigual do ponto de vista econômico, social e cultural. Enquanto vivemos no meio rural ou em cidades menores, esses fenômenos sociais pouco aparecem, mas já estão lá, presentes, são viscerais. Na medida, entretanto, em que aumenta a urbanização e a complexidade das cidades, essas questões somente são mais visíveis, porque afloram e os meios de comunicação e as próprias exigências da sociedade são maiores. A competição também cresce em áreas mais modernas e o quadro de redução da solidariedade fica mais visível. Essas são algumas pistas para a análise, mas não tenho pretensão de dar todas as respostas, porque são muitas. Na condição de economista, tenho um determinado olhar, que não necessariamente seja totalizador. Enfim, estamos tratando de fenômenos complexos, cuja interpretação também é complexa e exigiria, para dar algumas respostas, muito mais do que um economista, como eu. Precisaríamos de antropólogos, sociólogos, filósofos, psicólogos e assim por diante. O que eu sei é que a educação, desde que constituída por bons profissionais, compromissados socialmente, pode contribuir para a formação de um ser humano melhor, mas não pode ser a única a desempenhar esse papel.

4. [D.E]: O senhor acredita que campanhas educacionais – desenvolvidas junto à imprensa, às escolas e nos centros comunitários, entre outros locais – podem contribuir para se diminuir alguns problemas sociais como os já citados (o uso de drogas, o maltrato  aos animais, acidentes de trânsito e outros)? Como a Secretaria da Educação e a Prefeitura de Piracicaba podem contribuir para se dirimir essas questões?

[D.E]: A nossa rede municipal já trabalha todas essas questões, transversalmente, desde a educação infantil. As demais secretarias da Prefeitura também possuem diversos outros programas e atividades que tratam ou enfrentam esses problemas, ou, ainda, oferecem diversas opções para que tenhamos um cidadão mais bem atendido pelo Poder Público e, portanto, com melhores condições de vida para atuar na sociedade. Preocupa-me, no entanto, a questão da disseminação das drogas, responsável por grande parte dos problemas sociais com os quais nos defrontamos atualmente. Para mim, como acadêmico que estuda os problemas do país, creio que já atingimos um estado epidêmico e as nossas instituições não estão preparadas para enfrentá-lo. Culpo, sem nenhuma dúvida a respeito, o governo federal por esse estado de coisas, pois somente ele possui Forças Armadas e Polícia Federal que poderiam reduzir o tamanho do problema, caso enfrentasse a entrada de drogas e armas no país. As polícias estaduais e guardas municipais podem, no máximo, prender as pessoas já de posse de armas e drogas, mas não têm o poder de interferir nas fronteiras do país, que são de responsabilidade federal. Basta olhar nossos jornais locais e ver, diariamente, o número enorme de jovens e adultos presos com drogas e armas. Parece que estão enxugando gelo. Os portadores e usuários brotam do nada. Pior: a sociedade já se acostumou a negociar com os chefes locais para obter alguma proteção. Existe algo pior do que isso? Significa o desaparecimento gradativo do Estado naquilo que é essencial em sua função: a segurança pública. Grande parte de nossas energias e recursos públicos na área da educação, da saúde, da assistência social, da habitação, da segurança e assim por diante, é gasta para atender a necessidades de famílias desestruturadas, crescentemente associadas ao álcool, às drogas e à criminalidade. Poderíamos investir esses recursos em serviços para atender melhor a população. Basta uma pequena reflexão: em vez de gastar tanto dinheiro com mais policiais, mais viaturas, mais combustíveis, mais delegacias e mais penitenciárias, poderíamos aplicar esse mesmo dinheiro em mais enfermeiros, mais médicos, mais ambulâncias, mais postos de saúde e mais hospitais. O problema é que a situação de insegurança é tão grande, que a própria sociedade exige que gastemos mais com segurança. É a velha questão do ovo e da galinha.

5. [D.E]: Mudando de assunto, mas ainda tratando das questões do município, corre pela imprensa a ideia de que o senhor seria o “pré” candidato preferido pelo Prefeito Barjas Negri para sucedê-lo na Prefeitura. Isso é verdade? (risos). O senhor sente isso ou até mesmo confirma essa preferência ou ainda é cedo para dizer? (risos). Ou seria melhor perguntarmos primeiro se o senhor é um “pré” candidato à Prefeitura? (risos)

Em primeiro lugar, gostaria de dizer que me senti muito honrado quando o prefeito Barjas me colocou em uma lista de possíveis candidatos que poderiam ser apoiados por ele. Creio que seja o reconhecimento de toda uma trajetória de vida pública que possuo, grande parte dela vivida ou trabalhando com o próprio Barjas, seja no município, no governo do estado ou no governo federal. Há mais de 30 anos eu e o Barjas compartilhamos das mesmas preocupações e atuamos para mudar e melhorar as condições de vida da população. Estudei com o Barjas, nos formamos em Economia, fizemos mestrado e doutorado e fomos professores no mesmo período, na Unimep e Unicamp. Estivemos no MDB jovem, depois no PMDB e fundamos juntos o PSDB de Piracicaba, com outros companheiros, incluindo o deputado Thame. É por essa proximidade e convivência histórica que algumas pessoas acreditam que eu esteja entre os “preferidos do prefeito”. Mas não é bem assim. O Barjas é um homem raro, de espírito público exemplar: pensa primeiro no interesse público. Portanto, jamais me escolheria pelo companheirismo. Ele está pensando no que é melhor para a cidade, após ouvir a sociedade local, as lideranças representativas dos diversos segmentos, os dirigentes e membros do partido local e seus militantes. É importante lembrar que quem dá a palavra final sobre o candidato é o partido. E este terá que sair unido para a disputa, como sempre foi em nossa história local.

6. [D.E]: Na sua opinião, dada a aprovação que o prefeito Barjas Negri encontra entre os eleitores piracicabanos, o candidato indicado por ele sairá com um imensa vantagem sobre os demais candidatos dos outros partidos ou  não?

[G.F.]: O candidato terá, sim, uma grande vantagem, se a população entender como importante a continuidade dos esforços que vêm sendo realizados para uma cidade cada vez melhor, conforme a orientação do atual prefeito. Por outro lado, o desafio para esse candidato será ainda maior, porque ele tem que representar essa vontade coletiva e a população terá que reconhecer, no candidato, as qualidades para que possa dirigir o município com competência, seriedade e honestidade.

7. [D.E]: O próximo prefeito, seja ele quem for, enfrentará uma inevitável comparação em relação às duas gestões Barjas. Isso o assusta? Se você for eleito, você teme ser comparado ao Barjas?

[G.F.]: Acho difícil não haver a comparação, mas isso poderia ser injusto. Barjas retirou a cidade do atraso, trouxe investimentos importantes para o crescimento e modernização de nossa economia, investiu em todos os setores sociais, fez mais de 2 mil obras até agora. Praticamente todos os bairros e regiões da cidade, após esses investimentos, passaram a ter equipamentos de saúde, educação, assistência social, lazer e esportes. Os terrenos públicos foram, praticamente, todos utilizados para essas finalidades. Não será possível reproduzir esse padrão e nem seria inteligente. O próximo governo terá que trabalhar com esses equipamentos e ampliar ou aperfeiçoar as atividades neles realizadas. Eu diria, com o perdão do uso do estrangeirismo, que Barjas foi o prefeito do hardware e o próximo gestor terá que utilizar mais o software. Basta pegar a lista do que a população tem solicitado no orçamento participativo e ver que as necessidades e demandas da população mudaram, pois o básico foi praticamente atendido na maioria dos bairros. Não significa que obras importantes de infraestrutura ainda não precisam ser realizadas no município. Mas serão em quantidade menor do que o que foi realizado no governo Barjas. Se o próximo prefeito conseguir mostrar esse novo padrão de governo para a população, e que esta sinta ou veja os resultados, talvez haja menos injustiça na comparação (risos).

8. [D.E.]: Ainda nesse sentido, quais são as suas bandeiras em relação à cidade? O que mais lhe incomoda em relação ao que – sócio e politicamente falando – temos em Piracicaba?  O que você mudaria?

Tenho minhas opiniões pessoais sobre as necessidades do município, mas como fizemos nas duas campanhas do prefeito Barjas, quando trabalhei na elaboração dos planos de governo, sempre ouvimos a sociedade para construir esse planejamento. Assim, conseguimos ser democráticos  e trabalhar tendo como referencial os verdadeiros interesses e necessidades da população piracicabana.

9. [D.E.]: Em relação à imprensa  e ao uso da internet. Como o senhor vê a proliferação das redes sociais e de outras mídias tecnológicas? Na sua opinião, o mundo virtual – como o nosso, aqui do Diário do Engenho – é um espaço importante para a divulgação de textos jornalísticos e outros gêneros ou esse tipo de mídia tem, na sua forma de ver, os dias contados?

[G.F.]: Acho importantes e promissoras essas alternativas. A dificuldade é o espaço se firmar como referência, qualquer que ela seja, dependendo do público a que se destina. Disso dependerá a sua sobrevivência. Eu, por exemplo, além da mídia tradicional, acompanho cerca de meia dúzia desses espaços alternativos, onde encontro tanto elementos de informação quanto de reflexão.

10. [D.E.]: Encerrando este papo: quem é Gabriel Ferrato? Ou melhor, Gabriel Ferrato por Gabriel Ferrato. O que você espera de você mesmo?

[G.F.]: Sou uma pessoa comum, com defeitos e qualidades. De qualquer maneira, uma de minhas características específicas é ser perfeccionista, o que, às vezes, é um defeito. Isso vale para as tarefas profissionais e não pessoais. Não gosto de coisas “mais ou menos”. Exijo muito de mim e das pessoas com as quais me relaciono profissionalmente. Gosto de falar ou escrever, por exemplo, depois de estudar ou analisar determinado assunto. Estudo muito antes de dar opinião, assumir uma postura ou escrever sobre determinado tema. Outro defeito é ser teimoso: quando opto por determinada posição, após muita reflexão, dificilmente mudo de opinião. Por outro lado, se ainda não tenho uma posição definida sobre algum assunto, procuro ouvir e conhecer as diversas opiniões, em particular dos especialistas e envolvidos na questão, para só então adotar uma posição. No aspecto social, até pela experiência acadêmica que adquiri como professor de Economia e pesquisador de políticas públicas e também em gestão pública nas três esferas de governo, a minha preocupação permanente é pensar e buscar encontrar soluções para os problemas de nossa sociedade.

[D.E.]: Obrigado pela entrevista!

[G.F.]:  Agradeço ao Diário do Engenho pela oportunidade e desejo a toda a equipe sucesso nesse novo desafio!

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(fotos: Marquinhos Ferreira)

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